Por Yasmim Aguiar
O que mudou de uns anos para cá na relação entre pessoas? Em tempos de Facebook, WhatsApp, Tinder e muitos outros aplicativos, sites e softwares, que ao mesmo tempo que nos aproximam também nos afastam, podemos perceber que os relacionamentos já não são mais os mesmos. Como lidamos com isso? Bom, no filme “Her”, de Spike Jonze, os relacionamentos são retratados de uma maneira bem dura e sem aquele bom e velho final feliz.
A meu ver, “Her” é bem complexo e não aborda somente relacionamentos – caso você que esteja lendo esse texto e já tenha visto o filme, talvez concorde comigo. A história ressalta vários questionamentos, muitos deles por parte de Samantha (um sistema operacional), como “Quem eu sou? Qual meu propósito? Para onde vou?”. Questionamentos esses que a humanidade vem buscando resposta há séculos.
Calma! Se você ainda não viu o filme, vamos a uma breve sinopse: a narrativa se passa em um futuro próximo e conta a história de Theodore Twombly, um homem complexo e sentimental que trabalha escrevendo cartas de amor para o site BeautifulHandwrittenLetters.com, e divide seus dias entre trabalho, encontros rápidos com os amigos, videogame e tentar esquecer sua ex-esposa, a qual ele pensava ser o amor da sua vida. No filme, Theodore se apaixona por um sistema operacional, que ele carinhosamente chama de Samantha.
Durante o filme, existem também os questionamentos em relação à paixão que Theodore desenvolve por Samantha, “Poderiam os responsáveis pelo tal Sistema Operacional inteligente ter criado algo realmente emotivo ou será que eles apenas montaram scripts que ensinam ao sistema a aceitar os defeitos de seus usuários e “amá-los”?”. A partir deste, ponto entra uma questão muito importante: com o avanço da tecnologia e a facilidade em se relacionar virtualmente, estaríamos nós desaprendendo a lidar com emoções e situações reais?
Disfarçado como um romance futurista, “Her” traz um profundo estudo sobre as relações humanas, sobre as transformações que sofremos pelo meio tecnológico e sobre o vazio que eventualmente podemos sentir com o passar tempo.
As relações humanas não têm mais o sabor que tinham antes, é tudo tão ilusório, aquela sensação de se estar próximo, mas que na realidade não está. Alguns exemplos disso aparecem não só em relacionamentos, mas também quando você sai com amigos e continua conectado ao WhatsApp ou ao Facebook conversando com os não presentes. Ou quando vai a shows, eventos, festas e tem a necessidade de gravar, fotografar o tempo inteiro sem aproveitar de fato o momento que deve ser vivido.
Pense em todos os momentos em que você poderia ter participado e aproveitado mais, porém estava vidrado na tela do celular postando uma foto do momento que estava “vivendo”. A tecnologia tem tomado muito tempo, digo por mim, digo por vocês, e eu não duvido que a história contada nesse filme não possa acontecer na vida real. Pelo caminho em que estamos andando, encontrar conforto em um sistema operacional não parece ser tão ruim assim.