Por Tamires Gomes Silva
No dia 18 de agosto, durante o VIII Simpósio de Comunicação FAPCOM, a Profa. Dra. Malena Segura Contrera trouxe para o cenário da imagem mítica contrapontos interessantíssimos, tentarei pautá-los seguindo a raciocínio explorado.
Para ilustrar a imagem mítica, é fundamental o entendimento do que significa de fato um mito. A palavra mito estabelece uma junção com a palavra narrativa, não uma narrativa qualquer, mas sim uma narrativa arcaica, que surge em um determinado momento histórico onde o homem passa a desenvolver consciência do entendimento que somos mortais, ou seja, por meio da consciência de que um dia iremos morrer. Consequentemente, o entendimento da morte deu conhecimento de temporalidade e trouxe consigo a noção de que existe um amanhã – e o sentimento de angústia.
O mito é construído dessas grandes questões, e tudo aquilo que nos tornamos vem da necessidade de criar respostas e soluções, ainda que provisórias, para essa determinada angústia. Um sentimento de impotência referente ao obscuro amanhã.
A morte é irreversível, porém, a busca incessante de reversão deste fato inaugura no homem o que se tornará seu grande diferencial: a imaginação. Tudo aquilo que não conseguimos resolver de maneira concreta, buscamos uma solução imaginária. Prova disso, surgem os símbolos (representação de imagens nas cavernas, que tinha como objetivo narrar essas angústias, e o mundo ao seu redor).
O mito em si não se constitui em tempo histórico linear. Desta maneira, ele não acompanha espaço – tempo –, ele é fruto daquilo que somos, e são as narrativas que nos possibilitam ser quem somos. Também, em certo sentido, o mito existe porque existimos e não porque somos mortais. O mito não se configura na comparação nem na equivalência, e sim na metáfora. A lei da cumulatividade em cultura traz a concepção de buscarmos em nosso passado uma resposta para o futuro, é quase que correto afirmar que nosso eu de hoje vem de uma construção e reconstrução do que fomos ontem. McLuhan, que foi bem lembrado por Contrera, sempre seguia essa questão: sempre criaremos algo novo olhando para o retrovisor.
Ainda sobre a mortalidade, o corpo tem a responsabilidade de nos lembrar que somos mortais, com sinais de envelhecimento e doenças que vêm dele. Malena sugere: “Temos que fazer as pazes com a mortalidade, sermos imortais seria o máximo da desgraça, você vê tudo que era significativo se tornando obsoleto. A imortalidade nos traria o pior personagem de nós mesmos”. Afinal, seria uma falácia acreditar que o ser humano pode simplesmente abandonar seu corpo. Como tirar do homem o que o faz existir? Em resumo, o homem existe por sua consciência, corpo, e todas as imagens narrativas que constrói ao longo da vida.