por Lais Rodrigues e Lorena Lima
Entrevistamos o nosso ex-aluno de Jornalismo, Matheus Macedo, formado em 2018, e que recentemente lançou o livro-reportagem “Filhos dos Rios”.
A obra foi inspirada em seu Trabalho de Conclusão de Curso durante a graduação e aborda a extrema pobreza e exploração sexual que ocorre na Ilha do Marajó (PA).
Na conversa, Matheus fala sobre como surgiu a ideia sobre esse tema, como foi transformar o TCC em livro, a indicação ao Prêmio CNBB, quais são os próximos passos e muito mais.
Confira!
FAPCOM – Como surgiu a ideia de falar sobre esse tema?
MATHEUS – O desejo de abordar essa temática partiu do contexto político e social do Brasil atual. O agravamento da crise financeira, e a constante divulgação de estudos feitos pela ONU (Organização das Nações Unidas) de que havia um aumento no número de pessoas em extrema pobreza, além dos cortes em bolsas e auxílios a famílias de baixa renda despertaram o interesse em narrar às histórias de famílias em situação de miséria.
Os casos de abuso e exploração sexual acabaram cruzando com meu tema inicial quando escolhi o município de Melgaço, no Arquipélago do Marajó (PA), como objeto de estudo. A cidade é conhecida por ter o pior IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) do país, porém os casos de exploração sexual são muito presentes na vida daquela população. A partir disso, uni os dois temas.
FAPCOM – E qual foi o processo de transformar o seu TCC em livro?
MATHEUS – Para produzir o livro foi preciso mais de 1 ano de pesquisa em livros, teses e artigos e análise de reportagens publicadas sobre o assunto – além de explorar ao máximo dados disponibilizados pela ONU, IBGE e outros institutos de pesquisa. Após aprovação do projeto comecei o estudo de campo onde fiz duas viagens para o Pará. A primeira durou poucos dias, para entrevistar uma fonte, enquanto na outra fiquei 20 dias, no Marajó, nos municípios de Melgaço e Portel. Após a coleta de informações foi preciso a transcrição das entrevistas e análise do conteúdo. Com o material em mãos comecei a escrever o livro. Foram cerca de 4 meses para redigir a obra.
Algumas pessoas perceberam que o livro, que inicialmente um projeto de conclusão de curso, tinha potencial para ser publicado. Dessa forma, conversei com a PAULUS Editora e ofereci o material a eles, que aceitaram o projeto.
FAPCOM – Como foi viajar para tão longe para contar essas histórias?
MATHEUS – Foi meu maior desafio, tanto profissional como pessoal. Viajar sozinho para um lugar desconhecido com tantos problemas não foi fácil. O medo me acompanhou a todo instante, mas a vontade de vencê-lo e me superar foram fundamentais. Penso que se não fosse a ajuda que tive dos próprios moradores não teria conseguido colocar isso em prática. O povo paraense me acolheu e me ajudou muito.
A viagem me tirou completamente da zona de conformo, me fez sair de uma bolha e descobrir que dentro do Brasil existem outros ‘Brasis’, cheio de miséria e o esquecimento por parte do Estado. Era um desafio atrás do outro, ter que entrevistar aquelas famílias que não tinham o que comer há dias e com diversas crianças dentro de casa passando fome.
FAPCOM – Ficamos sabendo que você concorreu a uma premiação recentemente. Como surgiu a oportunidade de participar do prêmio CNBB? Qual a sensação?
MATHEUS – A ideia de participar do Prêmio CNBB de Comunicação surgiu quando estava no Pará. A viagem tinha o objetivo de coletar dados para o TCC, mas também aproveitei para produzir uma reportagem para a revista Páginas Abertas, da PAULUS Editora. Era minha primeira matéria de capa como repórter da revista.
Durante a viagem conversei com a Roberta Molina, que é Assessora de Imprensa da PAULUS e Editora-Chefe da revista, e percebemos que a matéria tinha potencial para ser indicada ao prêmio.
Quando as inscrições abriram, resolvi arriscar e me inscrevi sem o restante da equipe saber. Só quando recebi a confirmação de que a reportagem estava concorrendo, contei para todos. Foi uma felicidade muito grande saber que a reportagem era finalista do Prêmio Dom Hélder Câmara, pois ser um jornalista recém-formado e conseguir esse feito foi surpreendente! O Prêmio CNBB de Comunicação é reconhecido nacionalmente e tem premiado grandes jornalistas. Mesmo não vencendo o prêmio foi um grande passo ser um dos três finalistas do Brasil.
FAPCOM – Quais políticas públicas você acredita que faltam no Marajó, para que as histórias que você conta em seu livro não se repitam com as futuras gerações?
MATHEUS – Para que essa situação deixe de existir é preciso, acima de tudo, uma mudança muito grande na cultura local. Costumo dizer que tudo se resolve com Educação, mas o Governo Brasileiro tem que ser o primeiro a se interessar nessa mudança. E para mudar, é preciso: inclusão social, geração de empregos, e, principalmente a garantia dos direitos das crianças e dos adolescentes. Na região da Floresta Amazônica falta tudo, então é preciso que todas as políticas públicas possíveis sejam aplicadas, seja na área da saúde, habitação, educação, saneamento básico e emprego.
FAPCOM – Na próxima semana (20/09), você irá participar da Semana dos Direitos Humanos na FAPCOM. Como é voltar para a faculdade, mas dessa vez para compartilhar a sua experiência com os alunos?
MATHEUS – Confesso que estou um pouco ansioso. Não imaginava que esse projeto ganharia tamanha proporção. Acredito que voltar ao ambiente acadêmico para partilhar essa experiência é fundamental, primeiro porque o tema é de extrema importância e urgência. Falar de pobreza e exploração sexual é tocar em uma ferida aberta na sociedade brasileira, e o jornalismo tem esse papel de dar voz aos que não têm, além de denunciar as injustiças e mazelas da sociedade. Em segundo lugar, é preciso encorajar outros futuros jornalistas para que façam o mesmo, saiam da zona de conforto e realizem um bom jornalismo independente da pauta a ser abordada.
FAPCOM – Como a FAPCOM contribuiu para a sua formação? E com o projeto?
MATHEUS – A FAPCOM teve um papel fundamental em tudo. Sua preocupação com o humano e o objetivo de formar comunicadores com senso crítico apurado fazem a diferença, mas nada disso seria possível sem a qualidade do corpo docente que a instituição possui. Sempre tive total apoio dos Professores, Coordenação e Direção. Todos muito solícitos, dispostos a ajudar até mesmo fora do horário de aula, seja tirando dúvidas ou dando sugestões.
FAPCOM – Quais são os seus próximos passos? E o que você espera do futuro?
MATHEUS – A intenção é continuar estudando. Penso em seguir pesquisando na área de Jornalismo e Direitos Humanos e ingressar em um mestrado. Tenho procurado me aperfeiçoar em diversos aspectos que envolvem o jornalismo e assuntos que gosto de pautar, como cinema e política. Tudo isso com o propósito de sempre evoluir e alçar voos mais altos.
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Sobre Matheus
Matheus Macedo Fernandes da Silva é formado em Jornalismo pela Faculdade Paulus de Comunicação. Atualmente é Auxiliar de Comunicação na PAULUS Editora. Em 2019, foi finalista do Prêmio CNBB de Comunicação com a reportagem “Missionários na Amazônia”, publicada na revista Páginas Abertas. É colunista de cinema no portal Cinem(Ação), também escreve sobre Direitos Humanos, Meio Ambiente, Religião e Esportes.