Por Ana Cristina Ribeiro, Éric Silva, Paulo Santos e Tácila Rodrigues
O mundo dos artistas pode até parecer o ideal para algumas pessoas. Dinheiro, fama, fãs… Mas, para alcançar esse “status”, é preciso passar por outras etapas. Cinco alunos da FAPCOM– quatro de Rádio, TV e Internet e um de Filosofia – que saíram da sala de aula e foram para o palco mostrar a sua arte no “II Festival de Talentos” cumpriram uma delas.
O objetivo, naquele dia, não era mais estudar a matéria da prova, mas sim o texto da apresentação de teatro.
Andressa Santos, 18 anos – Além de estudar na FAPCOM, Andressa também faz curso de teatro. Ela conta que já atuou como protagonista na peça “Doroteia” ao interpretar uma ex-prostituta.
Nos bastidores, a estudante revela que sonha em ser atriz de teatro e tem como inspiração Fernanda Montenegro e Marília Pêra. “Concentração, presença de palco e atenção são fundamentais para uma boa apresentação”, diz. Para ela, o momento mais apreensivo da atuação são as primeiras cenas. Porém, se tudo dá certo, o sentimento é de realização.
Antes de entrar em cena, Andressa adota uma técnica: “Para ser um bom ator, você não deve apenas decorar o seu texto. Também é preciso estudar a trama de forma completa”, explica. Quando ela iniciou a apresentação, o público a observava em silêncio. Ela deu voz ao monólogo “A paz”. De acordo com a atriz, o texto foi publicado pela primeira vez como uma crônica de jornal.
Heliton Oliveira, 24 anos – Heliton trabalha há bastante tempo como ator. Ele já protagonizou diversas peças de teatro infantil readaptadas, entre elas, Madagascar e Frozen. Atualmente, também faz parte de uma companhia que se apresenta nas Semanas Internas de Prevenção de Acidentes do Trabalho (Sipats) de empresas.
Mesmo com toda a experiência foi a primeira vez que o estudante participou do “Festival de Talentos”. Ele estava ansioso. “Queria atuar na FAPCOM, mas não tinha coragem. Aqui é diferente, pois a plateia são os meus colegas”, admite. No dia, o aluno interpretou o personagem Silas.
Durante o espetáculo, cujo o texto era de humor, Heliton fazia questão de chamar o público para interagir. Uma, duas, três pessoas… Aos poucos, os espectadores também viravam protagonistas da história, fato que garantiu boas risadas de quem participava da trama. “É uma forma de quebrar o gelo”, comenta.
Yuri Garcia, 20 anos – Antes de entrar em cena, Yuri se concentra e parece estar apreensivo. Para ele, a ansiedade é bastante positiva. “É por isso que eu faço teatro. Por causa desse frio na barriga e do coração acelerado”, ressalta.
O monólogo “A caixa” é de sua autoria. O personagem tinha em mãos uma pequena caixa verde que guardava um segredo revelado somente no final da peça. “Para escrever o texto, me inspirei no filme ‘As virgens suicidas‘”. O longa foi dirigido e escrito por Sofia Coppola, filha do cineasta Francis Ford Coppola.
Ao fim da peça, após revelar ao público o conteúdo da caixa – uma corda, um frasco de veneno e remédios -, Yuri contou que a narrativa é um conflito interno de um homem que tem duas personalidades e tenta o suicídio. O estudante gosta do tema morte, conta que “ela está relacionada a todos, pois o fim da vida é a única certeza que temos”. Segundo Yuri, “a arte precisa transmitir mensagens com temas incomuns”.
Roberto Tadeu, 47 anos – O estudante de Filosofia conhece os palcos há mais de 29 anos. Natural de Pernambuco, o monólogo autoral “O que os meus olhos não verão” está relacionado às suas origens. Sem roteiro, ele improvisava usando algumas palavras que escreveu em papeis jogados no chão que continham as memórias de seu personagem, um retirante.
De acordo com Roberto, “a música é fundamental nas apresentações, pois, em conjunto com a expressão corporal, ela atinge lugares que outras artes não alcançam”. “Estar no palco é transmitir mensagens que, mesmo subjetivas, provocam o público”, afirma. Não à toa, o futuro filósofo dá aulas de teatro para adolescentes do projeto “Os indesejados” na periferia de São Paulo.
Raul Yabuki, 20 anos – A comédia também foi a aposta de Raul para agradar a plateia. Com o monólogo “Casal do Tinder”, ele conquistou os espectadores ao interpretar dois personagens que combinavam o primeiro encontro através do app Tinder e mentiam um para o outro para garantir a conquista. “Optei por esse formato porque é mais fácil e não dependo de outras pessoas para ensaiar”, diz.
Raul revela que sempre gostou de artes cênicas, porém, não sabe se no futuro será um ator profissional. “O início da carreira é a parte mais difícil”, destaca.
Ao terminar o show, ele admite que sentiu vontade de desistir porque tinha medo de esquecer as falas, pois foi a primeira vez que apresentou o texto.
Ansiosos, os estudantes aguardavam o resultado das apresentações. Apesar do voto da plateia, a decisão do grande vencedor estava nas mãos dos professores da FAPCOM.
A expectativa durou pouco. Avaliado por quesitos como administração de tempo e presença de palco, Raul Yabuki logo foi anunciado como o ganhador do “II Festival de Talentos”. Ele levou para casa um cheque de R$ 300 para gastar com livros.