A cidade de São Luís ergue-se, durante a madrugada, como uma mancha colorida sobre as terras arenosas do nordeste: no extremo sul da ilha, as lâmpadas incandescentes amareladas dos postes formam linhas aqui e ali, cada vez mais frequentes, mais ou menos como um grande pisca-pisca, onde os bairros ficam pendurados às avenidas, cercadas do breu da mata pré-amazônica; lá no fundo o amarelão se intensifica, vai ficando condensado e mais vibrante devido ao estreitamento de suas ruelas centenárias do Centro Histórico. O amarelado aqui tem o mesmo tom da borda da National Geographic, mas não é tão intenso. Há uma escuridão por causa do rio Anil, ofuscada apenas por duas finas linhas – duas pontes –, e então a claridade amarelada retorna, dessa vez mais forte, forte como o amarelo dos tubos de mostarda, na cidade nova, em uma mancha um tanto quanto ovalada (a laguna que em seu nome homenageia Ana Jansen, uma das primeiras oligarcas do estado) que vai acabar lá em cima, bem longe, quase como do nada, quando os postes encontram com as sempre mornas águas do Atlântico equatorial. Aí tudo passa a ser o roxo enevoado das águas que, na curvatura da Terra, vão se fundir com o azul do céu escuro e suas constelações, incrivelmente fáceis de serem vistas por aqui.