Por Anderson Paiva, aluno de jornalismo
Spotlight – Segredos Revelados (2015) é um drama baseado em fatos reais (inspirado no relato disponível em livro no Brasil pela Editora Vestígio), um tipo de filme que para muitos já parece batido e que segue sempre os mesmos passos de outras histórias do gênero. Porém, o ainda pouco conhecido diretor Tom McCarthy (de Trocando os Pés, 2014, e indicado ao Oscar de 2010 pelo roteiro da animação Up – Altas Aventuras, 2009) acerta em cheio ao não cair em clichês e não buscar amparo nas pirotecnias, arma cada vez mais usada nas grandes produções.
O longa tem coesão e delicadeza ao tratar de um assunto polêmico e delicado envolvendo a Igreja Católica, destrinchado pelo núcleo investigativo do jornal The Boston Globe, conhecido por Spotlight, com a chegada de um novo editor.
McCarthy conta com um elenco de peso – Michael Keaton (Birdman ou A Inesperada Virtude da Ignorância, 2014), Mark Ruffalo (Truque de Mestre, 2016), Rachel McAdams (Meia Noite em Paris, 2011) são alguns dos nomes – que podem parecer em um primeiro momento maior que o filme, mas muito bem alinhados que conseguem dar vida ao roteiro na medida exata, garantindo à história o protagonismo. O mesmo pode ser dito dos personagens secundários e das vítimas. O modo como os fatos são narrados e a força que há neles são poderosos por si só. As experiências expostas trazem a dor de um jeito fascinante e sutil que domina o ambiente sem torná-la demasiadamente pesada.
O longa mostra o trabalho dos jornalistas semelhante ao de uma aranha, que tece sua teia até fazê-la capaz de capturar cada pequeno inseto que por ela passa.
A cidade também fala
Spotlight envolve grandes nomes, personalidades de uma cidade e também sua sociedade em um caso que na verdade é um emaranhado. O cenário, Boston, é mostrado com suas particularidades, quase uma personificação, evitando que a estória transcorra de maneira genérica.
Spotlight tem a densidade que o tema traz naturalmente, mas é justamente nesta tensão natural que está seu trunfo. A determinação dos repórteres, seus esforços em não deixar nada, nem ninguém impune, sem ter rostos revelados, evidenciam a força do jornalismo e como ele pode e deve ser uma ferramenta fundamental para o equilíbrio e a ordem social. Esse é sem dúvidas um belo longa, um retrato sensato de uma sociedade cúmplice e amedrontada por seus próprios erros.
Equipe de jornalista premiada
A equipe de jornalismo investigativo Spotlight, do The Global Boston, publicou a série de reportagens que inspirou o livro e o filme em janeiro de 2002 e ganhou o Prêmio Pulitzer em 2003.
As discussões sobre o filme fizeram parte da disciplina Jornalismo Político e Econômico no 6º semestre de Jornalismo, ministrada pela professora Fernanda Iarossi, que tiveram como foco a prática investigativa como ferramenta essencial no jornalismo.
Mais: entrevista com Matt Carroll, que integrou a equipe em “Spotlight”. Leia aqui.